cidades resilientes e sustentaveis

Cidades resilientes e sustentáveis: O papel do ambiente construído

Neste artigo, exploraremos a importância de tornar as cidades resilientes e sustentáveis, bem como os desafios e oportunidades associados a esse objetivo.

As cidades desempenham um papel crucial no desenvolvimento sustentável global. No entanto, é importante reconhecer que o ambiente construído, responsável por aproximadamente 40% das emissoes de gases estufa, aproximadamente 40% do consumo de energia global, 25% do consumo de água, contribuem para o desmatamento por meio do uso de materiais de construção e geram quantidades significativas de resíduos, portanto, desempenha um papel significativo na sustentabilidade urbana (IPCC 2018).

A resiliência do ambiente construído

Antes de mergulharmos nos detalhes, vamos entender o conceito de resiliência. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), resiliência refere-se à capacidade de um sistema ou sociedade de resistir e se recuperar dos impactos das mudanças climáticas. Isso envolve a construção de capacidade adaptativa, o aprimoramento de mecanismos de enfrentamento e a redução de vulnerabilidades para garantir a sustentabilidade a longo prazo diante das condições climáticas em constante mudança.

O conforto térmico: adaptando-se às necessidades locais

Um dos aspectos importantes a serem considerados ao projetar edifícios é o conforto térmico dos ocupantes. As bandas de conforto térmico, como propostas por Fanger em 1970 e pela ASHRAE, assumem que a neutralidade térmica proporciona o maior conforto para a maioria das pessoas. No entanto, é importante lembrar que essas bandas foram desenvolvidas com base em princípios europeus e podem não ser diretamente aplicáveis em regiões com climas mais quentes, como o Brasil.

No contexto brasileiro, onde as temperaturas podem ser mais elevadas, é necessário ajustar essas bandas de conforto. Os seres humanos possuem a capacidade de se adaptar a diferentes temperaturas ao longo do tempo, o que chamamos de adaptação térmica (Taylor 2015 – adaptação humana ao calor). Portanto, é importante considerar a adaptabilidade térmica das pessoas ao definir os setpoints de temperatura nos edifícios. Embora o intervalo de 21 a 24 graus Celsius seja comumente utilizado, é fundamental ajustar esses parâmetros em regiões mais quentes para garantir o conforto dos ocupantes. No caso, é inteeressante utilizar as legislações de conforto térmico locais e nacionais, como as NBR 15575 e 15220, e também a métrica de Conforto térmico Adaptativo. Tenho um post já explicando tudo sobre as métricas e ferramentas de conforto térmico, clique aqui para ler.

Aumentando a resiliência térmica na escala urbana

Além de garantir a resiliência dentro dos edifícios, também é essencial aumentar a resiliência térmica em nível urbano. As ilhas de calor urbanas têm se intensificado devido às mudanças climáticas, tornando-se um desafio significativo para as cidades. De acordo com o IPCC 2023, aproximadamente 3.3 a 3.6 milhoes da populacao global vivem em areas altamente vulneraveis as mudancas climaticas e eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes.

No Brasil, especificamente, estamos enfrentando eventos climáticos extremos, como o aumento de secas e ondas de calor. De acordo com o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), o aumento da temperatura no país pode ser de 1ºC á 6ºC até 2100. Isso impacta não só na temperatura, mas também em um desequilibrio nos regimes de chuvas. Nas regiôes Central, Norte e Nordeste está previsto uma diminuição nas chuvas e nas regiões Sul e Suldeste, um aumento. A gente já consegue perceber claramente esses impactos com 2023 sendo o ano que bateu recordes em niveis de calor e eventos climáticos extremos. Essas condições climáticas adversas têm impactos significativos, como a intensificação da seca dos rios, afetando diretamente as populações ribeirinhas e indígenas. A falta de chuvas também compromete a segurança alimentar devido à escassez de peixes e ao impacto na agricultura. Isso cria um ciclo vicioso de eventos e consequências prejudiciais, portanto é crucial o aumento da resiliência termica nas cidades.

Vulnerabilidade e Suscetibilidade às Mudanças Climáticas

Além dos impactos diretos das mudanças climáticas, como aumento da temperatura e eventos climáticos extremos, é importante considerar a relação entre vulnerabilidade e suscetibilidade das comunidades urbanas a essas mudanças.

A vulnerabilidade refere-se à sensibilidade e à capacidade de se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. Comunidades com menor capacidade de resposta e recursos limitados são mais vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas. Isso inclui grupos de baixa renda, populações marginalizadas, idosos, crianças e pessoas com doenças crônicas.

A suscetibilidade, por outro lado, está relacionada à exposição e à probabilidade de ser afetado pelas mudanças climáticas. Comunidades localizadas em áreas de risco, como zonas costeiras sujeitas a inundações, regiões propensas a deslizamentos de terra ou áreas urbanas densamente construídas, podem ser mais suscetíveis aos impactos das mudanças climáticas.

Portanto, é essencial considerar a vulnerabilidade e a suscetibilidade das comunidades ao desenvolver estratégias de adaptação e resiliência urbana. Isso envolve a identificação e a implementação de medidas para reduzir as desigualdades, fortalecer a capacidade de resposta das comunidades e garantir a inclusão de todos os grupos sociais nas políticas e programas de adaptação.

A abordagem integrada, que leva em consideração os aspectos sociais, econômicos e ambientais, é fundamental para reduzir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência das cidades frente às mudanças climáticas. Isso inclui investir em infraestrutura verde, promover a justiça climática, melhorar o acesso a serviços básicos, como água potável e saneamento, e fortalecer a governança local para uma tomada de decisão mais inclusiva e participativa.

Ao tomar medidas para reduzir a vulnerabilidade e a suscetibilidade das comunidades urbanas, podemos avançar em direção a cidades sustentáveis, inclusivas e resilientes, capazes de enfrentar os desafios das mudanças climáticas e proporcionar uma melhor qualidade de vida para todos.

O caminho para cidades resilientes e sustentáveis

Para tornar nossas cidades mais sustentáveis e resilientes, é fundamental adotar uma abordagem holística. Isso inclui a implementação de estratégias que promovam o uso eficiente de energia, a adoção de fontes renováveis, o planejamento urbano inteligente, a criação de áreas verdes e o incentivo ao transporte público. Além disso, é necessário investir em pesquisas e inovações que possam impulsionar a resiliência urbana, bem como envolver a comunidade e as partes interessadas para criar uma mudança significativa.

Neste contexto, políticas públicas eficazes desempenham um papel crucial. É necessário que os governos e as autoridades locais adotem medidas para incentivar a construção de edifícios sustentáveis, promover regulamentações mais rigorosas e desenvolver programas de conscientização e educação para os cidadãos.

Em conclusão, a busca por cidades inclusivas, resilientes e sustentáveis é um desafio global. Através do desenvolvimento e implementação de estratégias eficazes, podemos garantir um futuro melhor para as gerações futuras. É hora de agir e trabalhar juntos para construir um ambiente construído que promova a qualidade de vida, a equidade social e a preservação do nosso planeta.

Espero que este artigo tenha fornecido uma visão abrangente sobre a importância de tornar as cidades sustentáveis e resilientes. Se você tiver alguma dúvida ou comentário, não hesite em compartilhá-los abaixo!


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